sábado, 27 de fevereiro de 2016

Desliguem a TV e o celular

 

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        Na Audiência Geral do dia 11 de novembro, o Papa Francisco disse que “é necessário cuidar da comunicação com coisas simples, porém eficazes, como conversar durante o jantar”. Fazendo eco das palavras do Pontífice, penso que fazem um grande mal para si, para os filhos e para as suas famílias os pais e as mães que espalham televisões por toda a casa, como se em cada canto tivéssemos de ter esse equipamento bem disponível, talvez para que o seu ruído abafe o insuportável vazio de sentido que cada qual traz dentro de si.

        O lar há de ser um local de convivência familiar. “Uma família cujos membros quase nunca fazem as refeições juntos o que não se conversa na mesa, mas assistem televisão ou usam o smartphone é uma família ‘pouco família’”, diz o Papa.

      É impressionante notar como esses equipamentos eletrônicos roubam as oportunidades de convivência familiar. Basta observar, por exemplo, como se comportam as pessoas numa mesa de restaurante. Mas qual seria o motivo disso?

      Um diálogo ou uma conversa entre várias pessoas, seja numa mesa de refeições, seja numa sala de estar ou mesmo ao telefone, exige esforço para ouvir e para responder num determinado momento específico, ainda que não se esteja disposto ou se desejasse fazer outra coisa.

        A mensagem eletrônica, ao contrário, pode ser lida e enviada quando melhor aprouver. Não exige uma interação em tempo real. Mais ainda, não é necessário fazer boa cara (basta enviar uma carinha feliz), esforço para sorrir, falar com simpatia etc. Em suma, é muito mais fácil enviar uma mensagem do que estabelecer um diálogo em tempo real.

          Algo de semelhante está por detrás da decisão de se ter um cachorro ao invés de um filho. Esse exige atenção e cuidados 24 horas por dia, esteja ou não disposto, quando se está bem ou cansado. Já o animalzinho, bem alimentado, pode ficar esperando por horas e horas até que, num dado momento, se dono se dispõe a passear ou brincar com ele. E então basta um breve aceno para que venha todo satisfeito com o rabinho abanando.

          Não temos nada contra animais domésticos. Bem ao contrário, penso é muito louvável a atitude as pessoas que optam por tê-los e se dispõem a cuidar deles com desvelo e carinho. Mas é certo que é muito mais fácil cuidar de um animal doméstico do que dos filhos. Esses exigem uma luta constante contra o nosso egoísmo, uma abertura de coração para se doar mesmo quando isso custa muito esforço. Devemos considerar, porém, que o amor se prova principalmente no sacrifício. E não é feliz quem ainda não aprendeu a amar.

          “Na mesa se fala e se escuta. Nada de silêncio. Não é o silêncio dos monges, é o silêncio do egoísmo. Cada um fica com as suas coisas ou com a televisão, com o computador e não se fala. Não! Nada de silêncio!” disse o Papa. E depois conclui: “Recuperai a convivência familiar!”.

           Esse objetivo que o Papa nos propõe cabe principalmente às mães e aos pais. São eles que devem fomentar um saudável ambiente familiar. Para isso, deverão se esforçar para construir um ambiente ameno, prazeroso, onde todos se sintam à vontade. Do contrário, é evidente que os filhos preferirão os eletrônicos, que por certo não lhes ficam todo tempo cobrando: “já fez lição?”, “fez isso?”, “terminou aquilo?”.

          Uma dica para se implementar as condições que permitem a convivência familiar é estabelecer pequenas regras. Por exemplo, que durante as refeições não se liga a TV nem se usa o smartphone. E depois devem ser os pais os primeiros a dar bom exemplo. Um conselho muito oportuno, que ouvi de uma mãe que teve dezoito filhos, é pensar em algo interessante para se contar durante as refeições. Pouco a pouco os filhos entram na conversa, dizem o que pensam. Vez por outra será necessária uma intervenção, para que se respeite as opiniões dos outros. Uns dias brigam, noutros sorriem. Enfim, entre euforias e tristezas, risos e lamentações, vai se construindo uma convivência sólida e feliz, apta a forjar mulheres e homens fortes, destinados e tornar cada dia melhor o mundo em que vivem.

Fábio Henrique Prado de Toledo

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Compreenda por que a Família é Sagrada


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Ninguém jamais destruirá a força da família por ser ela uma instituição divina

Concílio Vaticano II chamou a família de “a Igreja doméstica” (LG, 11) onde Deus reside, é reconhecido, amado, adorado e servido; e ensinou que: “A salvação da pessoa e da sociedade humana estão intimamente ligadas à condição feliz da comunidade conjugal e familiar” (GS, 47).

Jesus habita com a família cristã, nascida no Sacramento do Matrimônio. A sua presença nas Bodas de Caná da Galiléia significa que o Senhor “quer estar no meio da família”, ajudando-a a vencer todos os seus desafios.

Desde que Deus desejou criar o homem e a mulher “à sua imagem e semelhança” (Gen 1,26), Ele os quis “em família”. Tal qual o próprio Deus que é uma Família em três Pessoas Divinas, assim também o homem, criado à imagem do seu Criador, deveria viver numa família, numa comunidade de amor, já que ‘Deus é amor’ (1 Jo 4,8) e o homem lhe é semelhante.

Quem não experimentou amor em casa terá dificuldade para conhecê-lo fora

A família é o eixo da humanidade, é a sua pedra angular. O futuro da sociedade e da Igreja passam inexoravelmente por ela. É ali que os filhos e os pais devem ser felizes. Quem não experimentou o amor no seio do lar terá dificuldade para conhecê-lo fora dele.

“A família é a comunidade na qual, desde a infância, se podem assimilar os valores morais, em que se pode começar a honrar a Deus e a usar corretamente da liberdade. A vida em família é iniciação para a vida em sociedade” (CIC, 2207).

Depois de ter criado a mulher “da costela do homem” (Gen 1, 21), a levou para ele. Este, ao vê-la, suspirou de alegria: “Eis agora aqui, disse o homem, o osso dos meus ossos e a carne de minha carne; ela se chamará mulher…” (Gen 1, 23). Após esta declaração de amor tão profunda – a primeira na história da humanidade – Deus, então, mostra-lhes toda a profundidade da vida conjugal: “Por isso o homem deixa o seu pai e sua mãe para se unir à sua mulher; e já não são mais que uma só carne” (Gen 1, 24).

Depois de criar o homem e a mulher, Deus lhes disse: “Crescei e multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a. Dominai…” (Gen 1, 28).

Este é o desígnio de Deus para o homem e para a mulher, juntos, em família: crescer, multiplicar, encher a terra, submetê-la. E para isso Deus deu ao homem a inteligência para projetar e as mãos para construir o seu projeto.

Deus vive no lar nascido de um matrimônio

Nestas palavras de Deus: “crescei e multiplicai-vos” encerra-se todo o sentido da vida conjugal e familiar. Desta forma, Deus constituiu a família humana, a partir do casal, para durar para sempre, por isso, A FAMÍLIA É SAGRADA!

Vemos aí também a dignidade, baseada no amor mútuo, que levam o homem e a mulher a deixarem a própria casa paterna, para se dedicarem um ao outro totalmente. Este amor é tão profundo que dos dois faz-se um só, “uma só carne”, para que possam juntos realizar um grande projeto comum: a família.

Daí podemos ver que sem o matrimônio forte e santo, não é possível termos uma família forte e santa, segundo o desejo do coração de Deus. Tudo isto mostra como Deus está implicado nesta união absoluta do homem com a mulher, de onde vai surgir, então, a família. Por isso não há poder humano que possa eliminar a presença de Deus no matrimônio e na família. Deus vive no lar nascido de um matrimônio.

Isto nos faz entender que a celebração do Sacramento do Matrimônio é garantia da presença de Jesus no lar ali nascente. Como é doloroso perceber hoje que muitos jovens, nascidos em famílias católicas, já não valorizam mais este sacramento e acham, por ignorância religiosa, que já não é importante subir ao altar para começar uma família!

Toda esta reflexão nos leva a concluir que cada homem e cada mulher que deixam o pai e a mãe para se unirem em matrimônio e constituir uma nova família não o podem fazer leviana-mente, mas devem fazê-lo somente por um autêntico amor, que não é uma entrega passageira, mas uma doação definitiva, absoluta, total, até a morte.

Marcada pelo sinete divino, a família, em todos os povos, atravessou todos os tempos e chegou inteira até nós, no século XXI. Só uma instituição de Deus tem esta força. Ninguém jamais destruirá a força da família por ser ela uma instituição divina.

Felipe Aquino

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Cuidado com as penitências absurdas na Quaresma



É preciso ter bastante cuidado com as penitências absurdas na Quaresma

Quaresma é tempo de lutar contra nossos pecados, pois ele é a pior realidade para nós. O Catecismo diz: “Aos olhos da fé, nenhum mal é mais grave que o pecado, e nada tem consequências piores para os próprios pecadores, para a Igreja e para o mundo inteiro” (n. 1489).



Olhando para Jesus, desfigurado e destruído na cruz, entendemos o horror que é o pecado. Foi preciso a morte de Cristo para que nos livrássemos do pecado e da morte eterna, a separação da alma de Deus. Então, a Igreja nos propõe 40 dias de penitência, de resistência contra o pecado na Quaresma.

Essa prática é baseada na vida do povo de Deus. Durante 40 dias e 40 noites, caiu o dilúvio que inundou a terra e extinguiu a humanidade pecadora (cf. Gn. 7,12). Durante 40 anos, o povo escolhido vagou pelo deserto, em punição por sua ingratidão, antes de entrar na terra prometida (cf. Dt 8,2). Durante 40 dias, Ezequiel ficou deitado sobre o próprio lado direito, em representação do castigo de Deus iminente sobre a cidade de Jerusalém (cf. Ez 4,6). Moisés jejuou durante 40 dias no Monte Sinai antes de receber a revelação de Deus (cf. Ex 24, 12-17). Elias viajou durante 40 dias pelo deserto, para escapar da vingança da rainha idólatra Jezabel e ser consolado e instruído pelo Senhor (cf. 1 Reis 19,1-8). O próprio Jesus, após ter recebido o batismo no Jordão, e antes de começar a vida pública, passou 40 dias e 40 noites no deserto, rezando e jejuando (cf. Mt 4,2). É um tempo de luta contra o mal.

São Paulo nos oferece uma indicação precisa: “Nós vos exortamos a que não recebais em vão a sua graça”. Porque Ele diz: “No tempo favorável, eu te ouvi; no dia da salvação, vim em teu auxílio’’. Este é o “tempo favorável”, este é “o dia da salvação” (2 Cor 6,1-2). A liturgia da Igreja aplica essas palavras de modo particular ao tempo da Quaresma. “Convertei-vos e crede no Evangelho” e “Lembra-te de que és pó e ao pó hás de voltar”.

Convite à conversão

O primeiro convite é à conversão, é um alerta contra a superficialidade de nossa maneira de viver. Converter-se significa mudar de direção no caminho da vida: uma verdadeira e total inversão de rumo. Conversão é ir contra a corrente, contra a vida superficial, incoerente e ilusória, que frequentemente nos arrasta, domina e torna-nos escravos do mal ou pelo menos prisioneiros dele. Jesus Cristo é a meta final e o sentido profundo da conversão; Ele é o caminho ao qual somos chamados a percorrer, deixando-nos iluminar pela sua luz e sustentar pela sua força. A conversão é uma decisão de fé, que nos envolve inteiramente na comunhão íntima com a pessoa viva e concreta de Jesus. A conversão é o ‘sim’ total de quem entrega sua vida a Jesus pela vivência do Evangelho. “Cumpriu-se o tempo e o Reino de Deus está próximo. Arrependei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1,15).



Penitência não é para fazer mal

Para vencermos a nós mesmos, nossas fraquezas e paixões desordenadas, a Igreja recomenda, sobretudo na Quaresma, o jejum, a esmola e a oração como “remédios contra o pecado”, a fim de dominar as fraquezas da carne e aproximar-se de Deus. Portanto, não se deve fazer uma penitência exagerada, uma mortificação que leve a pessoa a ficar doente ou a se sentir mal. O jejum exige, sim, passar um pouco de fome durante o dia, mas sem causar mal à pessoa, sem tirar a sua condição de trabalhar, rezar etc.


Saber calar pode ser uma boa penitência

Há formas boas de mortificação, como cortarmos aquilo que nos agrada, seja para o corpo ou para o espírito, mas há pessoas que fazem excessos: peregrinações longas demais, penitências até com feridas, prejudicando a saúde. Deus não quer isso, Ele não nos pede o impossível.

Qual mortificação eu preciso fazer? É aquela que abate o meu pecado. Se eu sou soberbo, então minha penitência deve ser o exercício de humildade: vencer todo orgulho, ostentação, vaidade, exibicionismo, desejo de aparecer, de impor-se aos outros e saber calar.

Se seu pecado é o apego aos bens materiais e ao dinheiro, então eu preciso exercitar muito a boa e farta esmola, o desprendimento do mundo e das criaturas. Se meu mal é a luxúria e a impureza, então vou exercitar a castidade nos olhos, ouvidos, leituras, pensamentos e atos. Se sou irado, vou conquistar a mansidão; se sou invejoso, vou buscar a bondade; se sou preguiçoso, vou trabalhar melhor e ser diligente em servir aos outros sem interesses.

Perdoar pode ser mais importante

São Francisco de Sales, doutor da Igreja, dizia que a melhor penitência é aceitar, com resignação, os males que Deus permite que nos atinjam, porque Ele sabe do que precisamos, e assim nossos pecados são vencidos. A penitência que Deus nos manda é melhor do que aquela imposta por nós mesmos. Então, aceite, especialmente na Quaresma, sem reclamar, sem culpar ninguém, todos os males, dores, aborrecimentos e injurias que sofrer, e ofereça tudo a Deus pela sua conversão. Pode ser que dar o perdão a quem lhe ofendeu seja mais importante do que ficar 40 dias sem fazer isso ou aquilo. Uma visita a um doente, a um preso, o consolo de alguém aflito pode ser mais importante que uma peregrinação demorada. Tudo é importante, mas é preciso observar o mais importante para a realidade espiritual.

Prof. Filipe Aquino