domingo, 22 de novembro de 2015

Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo

image       O último domingo do ano litúrgico, nos traz de volta para a fonte e o ápice da nossa fé. Nós celebramos, na verdade, hoje, a Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo. Toda a liturgia da Palavra e a Liturgia da Eucaristia, que são os dois momentos essenciais da Missa, fazem-nos espiritualmente desfrutar deste grande tema de relevância teológica e moral para todo crente.

     E é o apóstolo Paulo a compreender os aspectos essenciais do tema no texto da Primeira Epístola aos Coríntios (1Cor 15,20-26.28), que podemos ler e meditar hoje: “Irmãos, Cristo ressuscitou dentre os mortos, as primícias dos que morreram, porque, se por meio de um homem a morte veio até nós, também por meio de um homem veio a ressurreição dos mortos, e, como todos morrem em Adão, assim todos serão vivificados em Cristo. Mas cada um por sua ordem: Cristo, as primícias, depois na sua vinda aqueles que são de Cristo. Então virá o fim, quando Ele entregar o reino a Deus Pai, depois de reduzir a nada toda autoridade e todo poder. Pois Ele deve reinar até que tenha posto todos os inimigos debaixo dos seus pés. O último inimigo a ser destruído é a morte. E quando tudo tiver sido sujeito, Ele, o Filho, estará sujeito Àquele a que sujeitou todas as coisas, que Deus seja tudo em todos”.

     A recapitulação de todas as coisas em Cristo é a chave para o mistério da criação e da redenção do homem e da humanidade. Cristo é o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim de tudo. Ele, que revelou o Pai e o Espírito Santo, é o mediador da única e eterna aliança entre Deus e a humanidade; é Ele o Redentor e Salvador, o Messias que veio e que devemos esperar novamente pela segunda e definitiva vinda à Terra para julgar os vivos e os mortos para a instauração do Reino definitivo e de sua realeza para sempre. O seu reinado no mundo já está se desenvolvendo na expectativa da realização plena. É a inicial fase da instauração do seu Reino, que, em sua plenitude, há de se manifestar no final da história. Um reino que é construído a cada dia através do trabalho daqueles que acreditam em Cristo e nos valores proclamados por Ele.

     Lembra-nos, em poucas palavras, o Prefácio da Solenidade de hoje: “Fostes vós, ó Deus, que com óleo de alegria consagrastes Sacerdote eterno e Rei do Universo o vosso único Filho, Jesus Cristo, Nosso Senhor. Ele se sacrificou como vítima imaculada de paz sobre o altar da Cruz, atuou o mistério da redenção humana, sujeitando ao seu poder todas as criaturas, ofereceu a sua majestade infinita, o reino eterno e universal: reino de verdade e de vida, reino de santidade e de graça, reino de justiça, amor e paz”.

     Centra-se sobre estes valores o texto do Evangelho de Mateus (Mt 25,31-46), que percebemos como o do Juízo Final, que será expresso, sobretudo, em ordem à caridade e (o) ao amor concreto com o qual vivemos nossa existência terrena: “Então o Rei dirá aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai, recebei em herança o reino preparado para vós desde a fundação do mundo. Porque tive fome e me destes de comer, tive sede e me destes de beber, eu era peregrino e recolhestes-me, nu e me vestistes, doente e visitastes-me, na prisão e fostes ver-me. Então os justos lhe perguntarão: ‘Senhor, quando te vimos com fome e nós te alimentamos? com sede e te demos algo para beber? Quando te vimos peregrino e te acolhemos? sem roupa e te vestimos? E quando te vimos doente ou na prisão, e fomos visitar-te? Em resposta, o rei dirá a eles: Em verdade eu vos digo: cada vez que fizestes isso a um desses meus irmãos mais pequeninos, fizestes a mim.”

     E é em cima da caridade que seremos julgados se somos dignos ou não de adentrar no Reino de Deus. Uma caridade vivida no dia-a-dia no serviço aos pobres e aos necessitados de toda espécie. A caridade que vem do coração e vai ao coração, que não faz cálculos ou conta o tempo e o espaço para servir a causa dos últimos e marginalizados.

     Jesus nos ensina a entrar nesta dinâmica de amor e de experimentar este amor, porque a verdadeira grandeza do homem, sua verdadeira realeza, a nobreza, especialmente do coração e da mente, é precisamente este amor que se manifesta e sempre é capaz de doar-se. É como o Bom Pastor que vai em busca da ovelha perdida, que cuida do doente, que cuida de todas as ovelhas do seu rebanho, e se alguma está em falta não se resigna à sua perda, mas a busca com insistência. É a ação da graça de Deus agindo silenciosamente e de maneiras misteriosas para a conversão do coração e da vida daqueles que vivem em comunhão com Ele, consigo mesmo e com os outros.

     E é impressionante o efeito cenográfico e visual do pastor trazido à nossa atenção por meio da passagem do profeta Ezequiel, que é a primeira leitura da Palavra de Deus hoje (Ez 34,11-12.15-17), na Solenidade de Cristo Rei: “Assim diz o Senhor Deus: ‘Eis que eu mesmo vou procurar as minhas ovelhas e vou cuidar delas. Como um pastor busca o seu rebanho, quando está entre as suas ovelhas que estavam dispersas, assim buscarei as minhas ovelhas e vou resgatá-las de todos os lugares onde foram espalhadas, nos dias nublados e escuros. Eu mesmo conduzirei minhas ovelhas… Esse tema é repetido também no texto do salmo responsorial, tirado de Salmo 22: “O Senhor é meu pastor, nada me faltará, Ele me faz repousar em verdes pastos, guia-me mansamente em águas tranquilas”. Ele me leva por sendas direitas por amor do seu nome. Mesmo que eu ande pelo vale escuro, não temerei mal algum, porque ele estará comigo… e habitarei na casa do Senhor para sempre.”

     Com estes sentimentos no coração, podemos concluir o ano litúrgico e dar graças a Deus por todas as bênçãos espirituais que Ele nos deu neste ano, com a esperança de que tenhamos contribuido de modo substancial no caminho para a santidade. Porque cada ano que passa, seja esse litúrgico ou do calendário, é um processo lento, mas seguro, na aproximação final do ingresso definitivo do Reino de Deus. Ingresso que será sancionado com a nossa morte, o último inimigo a ser destruído por este Rei único e especial, humilde e generoso, que veio entre nós, viveu e morreu por nós e ressuscitou por nós.

Dom Orani João Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro - RJ

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

A Igreja Católica anula casamento?

 

A Igreja Católica permite a nulidade dos casamentos?

Ao contrário do que muitos querem propor ou estão noticiando a respeito das mudanças propostas pelo Papa Francisco, em relação aos processos de nulidade do matrimônio, não houve e nem haverá uma mudança da doutrina da Igreja a respeito da indissolubilidade do matrimônio e também do divórcio.

A moral e a doutrina são imutáveis, pois não são de origem humana, mas divina. Nas mudanças de época e costumes, sempre se questiona sobre a validade de certas doutrinas e dos valores evangélicos. Será importante lembrar que as verdades da fé não são uma imposição da Igreja, mas vêm do coração de Deus e cabe à Igreja, como mãe e esposa do Cordeiro, ser a fiel zeladora e defensora destes mesmos valores e da verdade revelada.

O casamento que não deu certo é inválido?

A Igreja sempre reconheceu que certos casamentos não preenchem as condições legais para serem considerados válidos. Para avaliar os diferentes casos e situações, os tribunais eclesiásticos foram estabelecidos e, após uma minuciosa avaliação do caso, em particular, determinam a sentença pela validade ou não daquele matrimônio. Porém, o pressuposto do casamento não ter dado certo não significa dizer que, necessariamente, o mesmo seja inválido. O fato é que a Igreja jamais anula um casamento legalmente válido, mas ela pode averiguar a possibilidade de decretar a nulidade de um matrimônio que, na verdade, não existiu.

Facilitar o acesso dos fiéis ao tribunais eclesiásticos

A preocupação do Papa vem somar-se à angústia de muitos casais que querem uma resposta da Igreja sobre a possibilidade ou não de se declarar nula uma união conjugal anterior, e a mesma se protela e se prorroga por um prazo muito longo. Do outro lado, existe, muitas vezes, uma morosidade e uma falta de agilidade no julgamento destes mesmos processos. A Igreja deseja, então, que estes trâmites processuais facilitem o acesso dos fiéis aos tribunais eclesiásticos e que estes ajam de forma mais simplificada ao analisarem os processos que são de sua competência.

Juízos mais simples serão resolvidos pelos bispos

Os decretos emitidos pelo Papa Francisco reforçam e solidificam a autoridade do bispo diocesano como autoridade moral e juiz em sentenças nas quais a palavra final cabe à sua definição. Os juízos mais simples, onde não existam dúvidas sobre o determinado caso, podem ser decididos pelo próprio bispo ou por um único juiz no menor prazo possível. Do outro lado, a Igreja deseja que estes processos não sejam onerosos para os fiéis e sejam facilitados ao máximo para que, em muitos casos, o acesso seja gratuito.

A Igreja deseja favorecer ou estimular os processos de nulidade?

A Igreja não deseja favorecer e nem estimular os processos de nulidade matrimonial, mas agilizar o andamento dos mesmos para que a angústia e as “trevas da dúvida” não sejam prolongadas, e favorecer o cuidado, o esclarecimento para cada fiel sobre a sua real situação. A Igreja, como mãe, usará sempre da misericórdia para com seus filhos, sem contudo abrir mão da verdade, independentemente da situação. O valores essenciais do matrimônio precisam ser cada vez mais valorizados e os fiéis cada vez mais conscientizados sobre os compromissos inerentes à vida matrimonial, pois o primeiro trabalho a ser feito é formar casamentos mais sólidos para que recorram sempre menos aos processos de nulidade.

Padre Roger Araújo.

Sacerdote da Comunidade Canção Nova

 

 

.

terça-feira, 17 de novembro de 2015

Por que a Igreja recomenda o uso do Método de Ovulação Billings

 

O Método Ovulação Billings é recomendado para o planejamento familiar

“Pela sua estrutura íntima, o ato conjugal, ao mesmo tempo que une profundamente os esposos, torna-os aptos para a geração de novas vidas, segundo leis inscritas no próprio ser do homem e da mulher. Salvaguardando esses dois aspectos essenciais, unitivo e procriador, o ato conjugal conserva integralmente o sentido de amor mútuo e verdadeiro e a sua ordenação para a altíssima vocação do homem para a paternidade” (Humane Vitae).

Gerar uma nova vida é uma alegria, mas também constante motivo de preocupação dos pais. Preocupada com os meios artificiais usados pelos casais na prevenção e programação da gestação, a Igreja recomenda métodos naturais que utilizam da própria natureza fisiológica do homem e da mulher para que o casal possa planejar a sua família. No entanto, os métodos naturais vão muito além da prevenção, pois contribuem para que a mulher tenha um melhor conhecimento de seu corpo e favorecem a harmonia e o diálogo entre os casais.

Por que a Igreja Católica recomenda o uso do Método de Ovulação Billings para o planejamento familiar?

Existe um documento, que é importante citar quando se fala dos métodos naturais: a Encíclica do Papa Paulo VI, de 1968 (ainda muito atual), que se chama Humanae Vitae (“Da vida humana”). Nele, o Sumo Pontífice fala sobre a regulação da natalidade, porque a Igreja vê os casais livres e responsáveis com a criação. Nesse documento, a Igreja olha o homem de forma global, não vê a pessoa humana apenas fisiologicamente, mas também emocional e espiritualmente.

Naquela época, a Igreja reuniu cientistas, pessoas que entendem dessa área e casais para analisar a questão da regulação da natalidade. É aí que entra a história dos métodos naturais, porque eles são o melhor caminho, pois os casais vão se utilizar da própria fisiologia – sem interferência de nada artificial – para poder planejar a sua família levando em conta essa visão global do homem.

Por que muitos médicos não o recomendam?

Como instrutora do MOB [Método de Ovulação Billings]tenho um trabalho em conjunto com os médicos. Apresentamos os casais a eles, explicamos a proposta, sempre lembrando que o método é uma opção. Então, esses profissionais trabalham junto conosco, como os endocrinologistas e os nutricionistas, porque essa questão não é só ginecológica, mas também está ligada à alimentação e a uma disfunção hormonal. Temos um bom diálogo com alguns deles.

Quanto aos outros médicos, eu acredito que a praticidade faz com que eles já indiquem o anticoncepcional. Há também a questão da saúde pública… tudo isso interfere. O segundo ponto, não posso esconder, é que existe um lado comercial. Por mais que seja barato incutir essa cultura contraceptiva, vai haver um rendimento por trás disso. Já no método natural, você não gasta nada; é uma proposta bem contracorrente. Alguns [médicos], eu acredito que fazem isso por falta de conhecimento da prática.

Temos experiências de médicos, com quem começamos a conversar, que também passaram a ser usuários do método. Na nossa linguagem, dizemos que é uma “conversão” deles. Atendendo a tantos casais que utilizam esse método, essa médica também passou a usá-lo.

Quais são os principais benefícios do Billings?

Esse método, primeiramente, faz com que a mulher tenha um autoconhecimento. Ele não faz mal à saúde, não tem efeito colateral, não tem custo; portanto, serve para todas as classes sociais, principalmente para aquelas que não têm poder aquisitivo; além disso, favorece a harmonia do casal.

Como as mulheres que vivem na correria do dia a dia podem aderir a ele, tendo em vista que esse método exige uma maior observação com relação ao corpo?

Há um ditado que diz: “A mulher consegue fazer 10 coisas ao mesmo tempo”, e isso é verdade. Nós conseguimos trabalhar, cuidar dos filhos, do marido, ou seja, ficar “ligadas”. A dificuldade mesmo é exercitar. Para qualquer mulher que você pergunte, ela pode estar na fila do banco e a menstruação dela descer; ela vai sentir que isso aconteceu, assim como ela sente que está com dor nas costas, dor de cabeça. Não é algo que está fora dela, mas dentro; só que ninguém nunca pergunta para ela: “Como você está se sentindo hoje?”. Então, o trabalho da instrutora é, justamente, dar esse “clique” para que ela comece a se observar. Não é uma coisa de outro mundo; simplesmente ela nunca fez isso. Para saber que ela está menstruada, ninguém precisou dizer. A fertilidade é assim também, ela vai sentir, mas não está acostumada a se perguntar e a se sentir. É aí que entra o trabalho da instrução.

Ele deve ser utilizado apenas pelos casais já casados?

Na verdade, ele é utilizado desde a menarca – primeira menstruação – até a pré-menopausa, quando a mulher fecha o seu ciclo de vida fértil. Mas a utilização dele é diferenciada, porque uma adolescente vai usá-lo apenas para adquirir autoconhecimento.

É muito bacana, porque os adolescentes ainda estão regulando os seus hormônios e, nessa fase, muitos pais erram, porque levam as filhas ao ginecologista e já há uma medicação para regular o ciclo. É um pecado isso, porque a adolescente ainda está em fase de ajuste. Então, quando ela começa a se observar, descobre a beleza do seu corpo, valoriza-se como mulher, e essa valorização do corpo vai ser muito importante. Isso vai ajudá-la a ser melhor com as pessoas, a saber que, algumas vezes, o hormônio pode influenciar no humor, seja porque ela fica uma chata ou muito alegre, sensível. Enfim, isso ajuda também na sua vivência social.

Uma vez casado, dentro do matrimônio, o casal vai utilizar as regras para engravidar ou para espaçar a gravidez.

Qual deve ser o comportamento do casal durante o período fértil?

Uma das vantagens do Método Billings é o diálogo entre os casais, a harmonia. O casal vive um eterno enamoramento; é muito interessante. O sexo é muito importante na vida matrimonial evidentemente, mas ele é uma parte. Assim, quando alguns homens entendem a proposta, eles são os primeiros que a abraçam. Mas quando não a entendem, eles têm uma verdadeira aversão, porque existe aquela mentalidade de que sexo é todo dia, toda hora e “quanto mais, melhor”; “quanto mais, mais eu sou macho”.

Quando eles entendem a proposta, vivem uma reeducação sexual; vivem o sexo como uma entrega, uma doação a quem se ama. Dentro do casamento, você vive uma lua de mel, porque existem os dias férteis em que o casal quer espaçar; então não vai ter relação nesses dias, que é de 6 a 8 dias. Então, num ciclo de 28, 30 [dias], você tem cerca de 16 dias para ter relação. Aí, o casal vive um enamoramento. O que eles vão fazer? Vão conversar, vão namorar, ir ao cinema, jantar fora. O casal não fica na rotina e descobre que existem outras manifestações de amor além da sexual, da genital. O comportamento do casal deve ser o de se amar de outras formas e de forma responsável, já que eles não querem engravidar naquele momento.

Para que esse método funcione é importante a participação do marido?

É importante que ele queira viver essa experiência, porque, na verdade, quem se observa é a mulher. O marido é uma “ajuda adequada” (cf. Gênesis 2,18). Há casos em que a mulher esquece de anotar [o ciclo], e quem anota é o marido à noite. Eles vão ter que conversar sobre esse assunto. Toda mulher quer, no fim do dia, que o marido pergunte: “Como foi o seu dia?”. Nós achamos isso o máximo, mas para eles isso não faz a menor diferença. No entanto, para a relação sexual ele vai ter de perguntar. Olha que notícia maravilhosa! E ela vai responder: “Hoje eu estou seca, hoje eu estou molhada; ou seja, hoje estou fértil ou infértil”. Os homens aprendem muito rápido, mas precisam aceitar.

Isso é o legal, porque os outros métodos artificiais colocam o jugo sobre um ou sobre outro. “Se é a mulher quem está tomando um anticoncepcional, ela que se vire”. E fica uma coisa fria, pois eles têm relação na hora em que querem. Se é o homem quem faz vasectomia, está sobre ele [o jugo]. Não é fácil tomar a decisão de não mais procriar, porque isso é algo que está intrínseco ao homem e à mulher. Eles foram criados para colaborar com Deus na criação. Já o método natural é do casal.

Durante a amamentação, a mulher deve continuar utilizando-o?

Na amamentação, geralmente, a mulher acabou de ter um filho e o casal quer espaçar a próxima gravidez; outros não, querem ter um atrás do outro. Mas para o casal que quer esperar alguns anos para engravidar de novo, ela [esposa] vai continuar usando o método como usava antes de engravidar.

Como orientar a população mais carente?

O planejamento natural da família precisa ser mais divulgado, porque ele é eficaz em todas as camadas da sociedade. Existem, inclusive, mulheres analfabetas que praticam o método. Elas não precisam saber ler para fazê-lo, apenas se observar e pintar as cores do quadro de anotações.

Atendi um casal e a mulher me disse que sabia como estava; então, ela pegava uma folha seca para ilustrar quando estava infértil e, quando não punha nada, é porque ela estava fértil. É muito simples o método, mas é preciso que ele seja divulgado pelos meios de comunicação e precisam existir cada vez mais órgãos como o CENPLAFAN (Centro de Planejamento Familiar Natural), que é responsável por esse trabalho no Brasil. É preciso gerenciar mais instrutores capacitados para ajudar as pessoas; utilizando também os Postos de Saúde para que essa proposta chegue até elas.

Minha cura interior foi fundamental para entender o método

Eu tive uma “conversão” com o método, porque eu tinha 23 anos quando comecei a namorar o meu esposo. Ele já conhecia o método e falou dele para mim. A princípio eu pensei: “Nossa, mas tem que planejar?”. Na minha cabeça, eu não tinha que planejar, porque ia ter quantos filhos Deus me desse. Então, havia um pouco de resistência no meu coração. Mas uma pessoa da comunidade [Canção Nova] foi fazer um curso para instrutores em Araras (SP), em 1998, e me chamou. Lá fui eu, mas para questionar tudo. Na sexta-feira em que eu cheguei ao encontro, tive uma cura espiritual, porque a minha mãe foi mãe solteira. Então, eu não fui planejada pelos meus pais. Quando eu cheguei lá [no encontro], não conseguia dormir e pedi para essa pessoa que foi comigo rezar por mim. Na oração veio essa questão do meu pai e da minha mãe com relação à minha gestação. O ponto que foi nevrálgico na minha aceitação ao método foi a responsabilidade, porque, como não houve responsabilidade deles [os pais], eu não queria planejar. A partir disso, eu fui a todas as palestras, entendi a proposta do método e comecei a trabalhá-lo na Canção Nova; primeiramente comigo, fazendo o autoconhecimento da minha fertilidade e também participando de outros cursos.

 

Fabiana Azambuja

Fabiana Azambuja é instrutora Qualificada do Método de Ovulação Billings™ e Coordenadora do ‘Centro de Formação Famílias Novas’, no Posto Médico Padre Pio, em Cachoeira Paulista (SP). familiasnovas@cancaonova.com

domingo, 15 de novembro de 2015

Educar nas novas tecnologias

A tecnologia estrutura significativamente a vida dos homens e mulheres de hoje. Temos que direcioná-la para que seu uso contribua para o nosso desenvolvimento pessoal. É o que este editorial explica.

 

images 

As novas gerações nasceram em um mundo interconectado, ao qual os seus pais não estavam acostumados. Desde muito cedo têm acesso à Internet, redes sociais, chats, videogames. Sua capacidade de aprendizagem nesta área avança tão rápido quanto o desenvolvimento das tecnologias.

Desde muito novos, crianças e jovens estão expostos a um universo aparentemente sem fronteiras. Esta situação oferece grande quantidade de benefícios, mas ao mesmo tempo comporta riscos que fazem ainda mais necessária a proximidade e a orientação dos pais.

É importante considerar a "era digital" com uma visão positiva, porque como aponta Bento XVI, usada «com sabedoria pode contribuir para satisfazer o desejo de sentido, de verdade e de unidade que continua sendo a aspiração mais profunda do ser humano.»[1]. Porém, ao mesmo tempo, a realidade apresenta fatos que não podem ser ignorados: por exemplo, que o excesso de exposição das crianças às telas foi associado a riscos para a saúde como a obesidade, e a condutas agressivas ou problemáticas no colégio.

A tecnologia estrutura significativamente a vida dos homens e mulheres de hoje. Temos que direcioná-la para que seu uso contribua para o nosso desenvolvimento pessoal, e estar atentos para que os filhos a utilizem corretamente. Toda educação requer uma boa dose de paciência e planejamento, mas quando se fala de novas tecnologias também é necessário que os pais adquiram conhecimento, ideias e um pouco de prática, para formar o seu próprio critério e orientar os filhos de forma adequada.

Cada vez mais os dispositivos tecnológicos permanecem conectados a internet. Isto permite atingir audiências muito amplas e abre a possibilidade de difundir mensagens de forma rápida e praticamente sem custo. Porém, ao mesmo tempo, produz incerteza sobre quem vai ter acesso a estes conteúdos e quando o farão.

A experiência dos últimos anos ensina que as novas tecnologias não são apenas uma ferramenta para melhorar a extensão e o nível da comunicação, mas de certa maneira passaram a constituir um ambiente, um lugar[2], converteram-se num dos tecidos conectivos da cultura, através do qual a identidade se expressa[3].

Parte da tarefa dos pais cristãos de hoje é ensinar a santificar este ambiente, ajudando os filhos a comportar-se virtuosamente no mundo digital, fazendo-os ver que também é um lugar para expressar sua identidade cristã. Não seria eficaz estabelecer somente uma lista de regras, que em seguida ficariam obsoletas, por causa das mudanças contínuas e radicais da tecnologia; a obra educativa deve buscar a formação nas virtudes. Somente desse modo, crianças e jovens poderão viver uma vida boa, direcionando suas paixões, controlando suas ações e superando com alegria os obstáculos que dificultam a realização do bem na esfera digital. Como indica o Papa Francisco «a problemática principal não é tecnológica. Devemos interrogar-nos: Somos nós capazes, neste campo também, de levar Cristo, ou melhor, de levar ao encontro de Cristo?»[4]

Ao mesmo tempo, para não colocar os filhos em perigo desnecessário, é preciso ponderar a partir de que momento é oportuno utilizarem instrumentos digitais, e quais se ajustam melhor à maturidade própria de sua idade. Em muitas ocasiões, será possível «o recurso à tecnologia dos filtros, para protegê-los, na medida do possível contra a pornografia, as ameaças sexuais e outras insídias»[5], sabendo, ao mesmo tempo, que a vida virtuosa é o único filtro que não falha e sempre está disponível.

Virtudes em jogo: importância do bom exemplo

A família é escola de virtudes: elas crescem através da educação, atos deliberados e com esforço perseverante. A graça divina as purifica e eleva[6]. Sendo a família o lugar onde se aprendem as primeiras noções do bem e do mal, dos valores, é no lar que vai sendo construído o edifício das virtudes de cada criança.

Há estilos de vida que facilitam o encontro dos filhos com Deus, e outros que o dificultam. É lógico que os pais procurem que seus filhos tenham uma mentalidade e um coração cristãos, e ponham os meios para que sua família seja uma escola de virtudes. A meta é que cada filho aprenda a tomar suas decisões com maturidade humana e espiritual, de forma adequada à sua idade. As novas tecnologias são outro aspecto que deveria estar presente nas conversas e também nas regras da casa, que costumam ser poucas e dependem da idade dos filhos.

As virtudes não podem ser vividas isoladamente, estar nuns aspectos concretos da vida e não em outros. Por exemplo, ajudar um filho a não ser caprichoso ao comer ou nas brincadeiras, também o ajudará a comportar-se melhor no mundo digital, e vice-versa.

As novas tecnologias atraem a todos. Ensinar virtudes implica que os pais saibam contagiar a exigência que têm consigo mesmos, dando exemplo de moderação. Se os filhos forem testemunhas de nossas lutas, sentirão o estimulo a esforçar-se mais. Por exemplo, prestar atenção ao falar com eles: deixar o jornal de lado, desligar o som da televisão, olhar para a pessoa com quem se está falando, sem ficar observando o telefone. E quando é uma conversa importante, desligar todos os dispositivos para não sermos interrompidos. A educação exige dos pais «compreensão, prudência, saber ensinar e sobretudo saber amar; e que se empenhem em dar bom exemplo»[7].

 

Quando são menores

A infância é o momento em que se começa a praticar as virtudes, e a aprender o bom uso da liberdade. Com efeito, os períodos sensíveis para desenvolver o caráter com mais facilidade estão nesta etapa: podemos dizer que se constroem as estradas que serão percorridas na vida.

Toda regra geral pode ter as suas nuances, porém a experiência de muitos educadores demonstra que quando os filhos são muito jovens é preferível que não tenham aparelhos eletrônicos avançados (Tablets, Smartphones, Videogames). Além disso, por motivos de sobriedade, é aconselhável que sejam propriedade da família e que, geralmente, sejam utilizados em lugares comuns, com um plano para ajudar os filhos a moderar seu uso, normas e horários familiares que defendam outros tempos fundamentais para o estudo, o descanso e a vida familiar, e que permitam aproveitar o tempo e descansar nas horas oportunas.

Ao mesmo tempo em que os filhos conhecem os benefícios e os limites do mundo digital, convém ensinar-lhes o valor do contato humano direto que nenhuma tecnologia pode substituir. No momento adequado, temos de acompanhá-los pelo ambiente digital como um bom guia de montanha, para que não sofram danos e nem os causem aos outros. Consultar juntos a internet, "perder tempo" jogando um videogame, estabelecer os ajustes de um Smartphone serão oportunidades concretas para conversas mais profundas. « Os pais e os filhos devem dialogar em conjunto sobre aquilo que se vê e se experimenta no espaço cibernético. Também é útil compartilhar com outras famílias que tem os mesmos princípios e preocupações»[8].

Nestas idades, seria desproporcional que tivessem aparelhos conectados constantemente à internet. É melhor que sigam um plano de acesso por um tempo determinado, que se conectem somente em lugares e horários claros (desconectando-se ou desligando-o a noite), e ao mesmo tempo que lhes ensinamos a se protegerem de situações perigosas, que tenham a tranquilidade de poder apelar sempre aos pais. Como ensinava São Josemaria, « O ideal dos pais concretiza-se antes em chegarem a ser amigos dos filhos: amigos a quem se confiam as inquietações, a quem se consultam os problemas, de quem se espera uma ajuda eficaz e amável.»[9].

Adolescentes

Ao chegar à adolescência, os filhos reclamam com grande ênfase um grau de liberdade com o qual em muitos casos não são capazes de lidar adequadamente. Isto não significa que tenham de ser privados da autonomia que lhes corresponde; trata-se de algo muito mais difícil: é preciso ensinar-lhes a administrar sua liberdade responsavelmente. Só então serão capazes de conseguir um aumento de possibilidades que lhes permita aspirar a objetivos altos.

Como afirma Bento XVI, «educar é dotar as pessoas de uma verdadeira sabedoria, que inclui a fé, para entrar em relação com o mundo; equipá-las com elementos suficientes em relação ao pensamento, aos afetos e aos juízos.»[10]. Na adolescência a formação é adquirida com liberdade e, além das regras lógicas da vida familiar, os pais contam com um recurso fundamental: o diálogo. É importante explicar o porquê de alguns comportamentos, talvez percebidos pelo jovem como formalismo. Ou as razões subjacentes a alguns procedimentos que podem ser considerados limites, mas na realidade não são simples proibições, e sim grandes afirmações que ajudam a forjar uma personalidade autêntica, que sabe ir contra a corrente. É mais eficaz mostrar como a virtude é atrativa, fazendo presentes os ideais magnânimos que têm nos seus corações, os grandes amores pelos quais são movidos: a lealdade com seus amigos, o respeito aos outros, a necessidade de viver a temperança e a modéstia, etc.

O trabalho dos pais é facilitado quando conhecem os interesses de seus filhos. Não se trata de vigilância, mas de saber o que lhes interessa, gerar a confiança necessária para que se sintam à vontade para falar do que gostam, e, se for o caso, compartilhar tempo e hobbies com eles. Há jovens que escrevem blogs ou usam redes sociais, e seus pais não sabem ou nunca leram os seus textos, e podem pensar que os pais não se interessam ou não gostam do que fazem. Para alguns pais, ver com certa frequência o que seus filhos escrevem e criam na internet será um grato descobrimento e um motivo de enriquecimento do diálogo e da vida familiar.

Também nestas idades é conveniente mostrar o valor da austeridade quanto aos dispositivos, gadgets e programas (aplicativos, etc.). Ensinar a viver o desprendimento, não só pelo que custa o hardware e o software, mas para não nos deixarmos « dominar pelas paixões, passar de uma experiência para outra sem discernimento, seguir as modas do tempo» [11], que em certas ocasiões é o comportamento induzido pela publicidade, e não é fácil manter a independência.

Além disso, será una forma de ensiná-los a viver a moderação com o tempo que passam nas redes sociais, videogames, jogos on-line, etc. Para propor estas diretrizes em casa, o modo de explicar é importante, porém a coerência dos pais importa ainda mais: viver pessoalmente estas diretrizes é o melhor modo de comunicá-las num ambiente de carinho e liberdade.

Saber explicar os porquês não requer um conhecimento técnico avançado. Em muitos casos os conselhos que os filhos necessitam para desenvolver-se nos ambientes digitais são os mesmos que orientam o comportamento nos espaços públicos: boas maneiras, recato ou pudor, respeito ao próximo, cuidado com a vista, domínio de si, etc.

De acordo com a idade de cada filho, torna-se decisivo manter diálogos profundos sobre a educação da afetividade e da verdadeira amizade. Vale a pena recordar aos filhos que o que se publica na rede costuma ser acessível a uma infinidade de pessoas em qualquer parte do mundo e que em quase todas as ocasiões o que se faz no meio digital deixa um rastro que pode ser acessado através de buscas. O mundo digital é um grande espaço no qual há que mover-se com naturalidade e senso comum ao mesmo tempo. Se na rua a criança nem pensa em falar com um desconhecido, na rede também não. Uma comunicação franca na família ajudará a entender tudo isto, e a criar um ambiente de confiança no qual se possam resolver as dúvidas e expressar as incertezas.

Juan Carlos Vásconez